Circular da UGEAN às Secções acompanhado duma resolução

Cota
0061.000.025
Tipologia
Circular
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
UGEAN - União Geral dos Estudantes da África Negra sob Dominação Colonial Portuguesa
Data
Conservação
Bom
Imagens
4
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»


UNIÃO GERAL DOS ESTUDANTES DA ÁFRICA NEGRA SOB
DOMINAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA

Secretariado Permanente: 18, Rue de DIRAH (HIDRA) ALGER/ALGERIE

Circular às Secções
CE/5/64 Argel, 21 de Abril de 1964

Companheiro,
A secção da Alemanha Ocidental realizou em Friburgo de 22 a 24 de Fevereiro de 1964, uma reunião de Estudantes Angolanos residentes na Alemanha, à qual ­participaram igualmente representantes de várias secções da UGEAN na Europa.
Essa reunião teve por fim, estudar minuciosamente as razões da crise que atravessa o Nacionalismo Angolano. Os estudantes reunidos em Friburgo, tiveram o mérito de sem equívoco, definir uma posição clara e revolucionária, face às manobras que se desenham para a imposição de uma solução neocolonialista à Independência de Angola.
O Comité Executivo da UGEAN, saúda a iniciativa da secção da Alemanha Ocidental e solidariza-se com a resolução final da reunião. O elevado espírito de vigilância revolucionária, acrescido de um intenso trabalho de formação e de informação, quer ao nível dos estudantes em geral como também ao nível dos partidos políticos, levará o inimigo dos nossos Povos à derrota final.
Os estudantes das colónias sob dominação portuguesa, vanguarda na luta de libertação nacional, devem dar provas a todo o momento de um elevado espírito de sacrifício, e ter a firme resolução de impor uma real concretização das aspirações mais profundas dos nossos Povos.
Por isso, os estudantes em todas as reuniões e manifestações, quer nacionais, quer internacionais, devem desmascarar com aquela mesma coragem com que os patriotas em Angola e na Guiné dita portuguesa combatem com armas na mão os nossos opressores, todas as tentativas de mistificação e de sabotagem na luta para a libertação dos nossos países, combatendo eficazmente todas as forças da reacção.
Por conseguinte, o estudante, não se deve limitar a procurar uma unidade de princípios, mas deve sobretudo impor uma real unidade na acção.

Comité Executivo da UGEAN
[carimbo da UGEAN]

RESOLUÇÃO

Os estudantes angolanos representando mais de 300 dos seus colegas reunidos em assembleia, de 22 a 24 de Fevereiro de 1964 na República Federal Alemã,
Depois de uma análise aprofundada do problema do seu país, Angola;
Conscientes da gravidade em que se encontra o nacionalismo angolano e das ameaças que pesam no destino do seu país e do seu povo em armas;
Preocupados com a viragem dos acontecimentos depois que uma decisão desastrada e arbitrária do “Comité de Conciliação”, criado em Dar-es-Salam, decidiu em Léopoldville (Julho 1963), o reconhecimento dum pretenso “Governo da República Angolana no exílio”;
Indignados pela forma como os responsáveis africanos em Dakar (Agosto 1963) homologaram, com a sua escolha, uma decisão que era resultado de uma análise muito pouco aprofundada da situação em Angola, sem mesmo se preocuparem com os dados concretos e reais do nacionalismo angolano e as suas incidências no interior do país e que assim chegaram a tentar “calar” uma Organização universalmente reconhecida como lutando verdadeiramente pela instauração de uma sociedade nova em Angola;
Conscientes da justeza da luta do seu povo que, será o único e em última instância a escolher as suas instituições e os seus responsáveis;
Constatando que a decisão, tomada em Dakar, de ratificar as recomendações do “Comité de Conciliação” para reconhecer um pretenso governo está longe de servir os interesses fundamentais do povo angolano e que de facto apenas serve o imperialismo, americano em particular, enquanto enfraquece o potencial de luta do nosso povo;
Considerando que no “estudo da situação do nacionalismo angolano”, [feito] por este Comité, factores externos jogaram um papel fundamental e afectaram o desenrolar normal dos trabalhos do dito Comité;
Considerando ainda que o diktat imposto pelo Governo ADOULA ao dito Comité de “apenas tolerar ou considerar como único movimento o de seu amigo Holden Roberto, quaisquer que sejam as decisões deste Comité” só corresponde de facto ao desejo desse Senhor Adoula e dos seus apoiantes de verem instaurar amanhã em Angola um Governo do seu tipo, neocolonialista e a soldo dos interesses estrangeiros à África;
OS ESTUDANTES ANGOLANOS, RESPONDENDO A ANSEIOS UNÂNIMES DE MAIS DE 300 DOS SEUS COLEGAS,
Saúdam a constituição, em Addis Abeba, da Organização da Unidade Africana (OUA), esperando que ela não traia os interesses dos povos africanos e a esperança que ela suscitou junto dos que ainda lutam pela sua independência real;
Levam à atenção da OUA o agravamento da situação em Angola, a ingerência escandalosa e flagrante dos actuais dirigentes do Congo/Léopoldville nos assuntos angolanos, prendendo, perseguindo e maltratando todos os Angolanos que recusam submeter-se às ordens de Holden Roberto e de seu “governo”, o qual não representa Angola;
Protestam junto da OUA contra o reconhecimento, por Órgãos criados pelo “Comité dos noves”, de um Movimento, aliás “Frente”, aliás “Governo da República Angolana no Exílio” transformado neste caso em governo “Revolucionário”, ao mesmo tempo que se permite afastar outro Movimento que, aos olhos da esmagadora maioria dos estudantes angolanos, é o único movimento que, pelo leque dos seus membros e pelo seu Programa, pode realmente representar a sociedade angolana e [é] o verdadeiro defensor das aspirações mais justas e profundas do nosso povo;
Chamam a atenção da OUA para o perigo que faz pesar sobre o futuro de Angola a não-revisão das Recomendações do “Comité de Conciliação” tomadas em Léopoldville em Julho de 1963 e ratificadas em Dakar em Agosto de 1963;
Opõem-se e opor-se-ão sempre à imposição, pelo imperialismo, de um Governo neocolonialista no nosso país; à criação das condições para uma “congolização” de Angola; e ao aparecimento de um Governo tipo Adoula como será “o” de um Holden Roberto, cujas recentes profissões de fé “neutralistas” são apenas manobras tendentes a confundir a opinião anticolonialista e anti-imperialista mundial e constituem a ­estratégia holdenista que visa atrair para si apoios de um amplo sector dessa opinião;
Alertam os responsáveis africanos para as consequências desastrosas que podem decorrer, para Angola e para a África, da consagração da divisão do nacionalismo angolano; recordam-lhes dolorosamente os acontecimentos que precederam a prisão e o assassinato do Glorioso Herói e Mártir o falecido Patrice LUMUMBA e de seus Companheiros, que face ao brutal imperialismo não puderam encontrar por parte de seus irmãos africanos a ajuda e o apoio total que esperavam e que a África estava à altura e tinha o dever de lhes prestar;
Denunciam o colonialismo retrógrado português e o plano imperialista tendente a açambarcar riquezas desta parte sul de África enquanto promove a divisão nas forças combatentes e a criação de lacaios de que se servirão amanhã para explorar os nossos povos;
Rendem uma vibrante homenagem aos heróis anónimos da Revolução africana em geral, da Argélia, da Guiné dita portuguesa e de Angola em particular e juram-lhes que não tombaram em vão porque o seu exemplo é o farol que conduzirá irreversivelmente a África para amanhãs melhores;
Reafirmam a sua confiança no desenlace feliz da luta do nosso Continente pelo bem-estar, a dignidade e a independência real;
Reafirmam o seu apoio inquebrantável ao povo em armas e ao seu Movimento de vanguarda o MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (MPLA);
Exortam a OUA a difundir esta Resolução entre os Estados-Membros.
Os estudantes angolanos reservam-se o direito de dar a maior difusão a este documento porque ao fazê-lo não fazem mais do que o seu dever, o de alertar a opinião africana sobre os graves acontecimentos que surgirão em Angola num futuro breve, como receamos.
“Vitória ou Morte”
Os estudantes angolanos

Circular da UGEAN às Secções (CE/5/64) acompanhado duma resolução da Assembleia da UGEAN de 22 a 24 de Fevereiro de 1964

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