Carta ao Gabinete Político do MPLA

Cota
0062.000.023
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Sebastião Gaspar Júnior, Miranda Muginga e Oliveira Sebastião Gaspar
Destinatário
Gabinete Político do MPLA
local doc
Léopoldville (Rep. Congo)
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
2
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

 Léopoldville, 22 de Maio de 1964 Aos MEMBROS DO GABINETE POLÍTICO DO MPLA BRAZZAVILLE Camaradas: Nós abaixo assinados, considerando o Gabinete Político tão capaz de solucionar qualquer problema no seio da nossa Organização, viemos por meio desta carta informar algo que desanima os nossos espíritos. Aliás, a justeza do Gabinete Político em cumprimento dos princípios justos da constituição do MPLA, vimos que será da consciência dos membros que constituam o referido Gabinete, dar o parecer imediato do caso no sentido mais benéfico. Foi em Angola que nos fizemos membros do MPLA, e, desde o início das activi­dades do MPLA em Léopoldville em 1961, somos Militantes activos e foi mesmo naquela altura que nos inscrevemos candidatos a bolsa de estudos até esperar a altura precisa para seguir os cursos voluntariamente escolhidos por nós. Infelizmente, não partimos, havendo da parte dos responsáveis, inúmeras desculpas dando esperanças de que seguiríamos no ano seguinte 1962-63, tendo seguido apenas naquele ano vários outros companheiros como por exemplo: Jacob Caetano, Francisco Bernardo, Gonçalves Luís, Augusto Caetano, Domingos Mateus da Silva, Miguel Cristóvão. Não perdendo porém esperança, conservamo-nos firmes trabalhando sem rodeios e aguentando as dificuldades, seja de qual espécie. Em 1963, estávamos prontos para seguir e com esperança de ir frequentar os cursos conforme as nossas inscrições: – Miranda Muginga e Sebastião Gaspar Júnior, Agrimensura, e Oliveira Sebastião Gaspar, Rádio Técnico. Ora, depois dos grupos que seguiram para a URSS serem advertidos antecipada­mente pelo Responsável da Organização e Quadros, nós fomos excluídos a essa advertência e só no dia 11 de Novembro fomos chamados pelo camarada Chipenda avisando-nos de que deveríamos partir dia seguinte dia 12 para Bulgária no curso da Topografia Militar. Não estando de acordo com a atitude do camarada responsável, e sem interferência de ninguém recusamos partir por motivo seguinte: – Considerando-nos como militantes activos e assíduos a todos os trabalhos dentro da organização, e inscritos nas primeiras oportunidades para beneficiar do direito que nos é reservado na Organização. (ver ficha de militância) – Considerando uma atitude injusta e de imposição, sem chamar-nos com antecedência para jurar o compromisso da nossa bolsa, como se fez aos outros antes de partir. – Considerando uma atitude de discriminação quando vários camaradas recém-chegados de Angola e nas mesmas condições partem e nós surpreendidos. – Quando muitos sem instrução superior à nossa, partem e avisados com muita antecedência. – Quando outros com cadastros sujos e questão submetida no Conselho Disciplinar, questões desabonadoras, partem e sem imposição (citamos por exemplo um camarada, o camarada BALDUÍNO) ver ficha de militância e documentos do Conselho Disciplinar. Depois de tudo passar, o nosso erro teve como consequência: – Palavras agressivas e vexatórias. – Corte do direito a alimentação durante 15 dias, sem dar-nos a conhecer, segundo o hábito da organização por comunicado ou aviso. – Afastamento silencioso, e outras sanções ainda que desconhecemos e a critério do Comité Director sem manifestarem-nos. – Arrumados e considerando-nos os mais criminosos no Movimento. ISTO SERÁ FALTA DE ALGUÉM QUE POSSA INTERCEDER POR NÓS? Reconhecemos, de facto, que até certo ponto é erro e a nossa Organização na pessoa de seus membros foi vexada. Pedimos que lembrais uma coisa: – Certos pais educam, dão uma educação suficiente aos seus filhos; em dado momento, algum dos filhos erra, peca ou pratica um crime qualquer e todas as palavras boas ou más quem as ouve são os pais. Eles zangam-se, batem, castigam, etc., mas não deixam de considerar o filho. Às vezes é má direcção dos pais e o filho proceda má acção, mas não é por causa disso [que] deixa de ser filho ou que não tenha o mesmo direito. Animados pelos princípios justos e democráticos da nossa Organização e estando no direito atribuído igualmente aos outros, julgamos porém útil fazer esta carta ao Gabinete Político para estudar justamente o caso no sentido de reconsiderar-nos a bolsa pedida para este ano lectivo. Esperamos todas as garantias. Terminamos com as nossas sinceras saudações fraternais e votos de que tenhais uma óptima disposição ao resolverem o nosso caso. Respeitosamente assinamos, Sebastião Gaspar Júnior [segue assinatura] Miranda Muginga [segue assinatura] Oliveira Sebastião Gaspar [segue assinatura]

Carta ao Gabinete Político do MPLA, assinada por Sebastião Gaspar Júnior, Miranda Muginga e Oliveira Sebastião Gaspar (Léopoldville) ao Gabinete Político do MPLA

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