Comunicado de imprensa do MPLA sobre a Base de Kinkuzu

Cota
0065.000.017
Tipologia
Comunicado
Impressão
Policopiado
Suporte
Papel comum
Autor
Comité Director do MPLA
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
3
Observações

Foi publicado no 3º volume de «Um amplo movimento…»

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA
MPLA
C.P. 2353 – Tel. 4915
BRAZZAVILLE

COMUNICADO DE IMPRENSA

O diário congolês de Léopoldville, “ L’ÉTOILE DU CONGO” de 13 de Agosto de 1964 reproduz, com o título “INCIDENTES NA BASE DE KINKUZU”, a seguinte notícia:
“LÉOPOLDVILLE – Incidentes eclodiram há alguns dias na base das forças revolucionárias angolanas, no campo de Kinkuzu (região do Baixo-Congo), anuncia um comunicado publicado ontem em Léopoldville. Os soldados do “Governo revolucionário de Angola no exílio” – presidido pelo Sr. Holden Roberto – amotinaram-se e incendiaram a base que o Governo congolês lhes cedeu. Este último – diz-se em Léopoldville – tomou todas as medidas para que esta revolta (a 5ª desde a presença dos soldados de Angola no Congo), não cause nenhum dano às populações vizinhas. (AFP)”
Esta notícia merece, da parte do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), alguns comentários que se seguem:
1. A opinião pública, tanto nacional como internacional, tomou conhecimento da declaração do Sr. Jonas SAVIMBI, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros do “grae”. Nesta declaração, feita no Cairo durante a Conferência dos Chefes de Estado Africanos, o Sr. Savimbi tinha acusado o Sr. Holden Roberto e o seu “governo” de serem responsáveis pela paralisação da luta armada em Angola e punha em causa a sua capacidade de dirigir a luta de libertação do povo angolano.
2. Uns dias mais tarde, a 25 de Julho de 1964, o Dr. José LIAHUCA, membro dirigente da FNLA e director do “Serviço de Assistência aos Refugiados Angolanos” (SARA), organismo de Assistência do “grae”, fazia também uma declaração para a opinião pública nacional e internacional. Através da sua declaração, o Dr. Liahuca anunciava a sua demissão dos postos que ocupava nos organismos dirigentes da FNLA e invocava como razões da sua demissão, os seguintes motivos:
a) “A desorganização e a estagnação da luta pela libertação de Angola sob a responsabilidade de Holden Roberto.”
b) “As manobras tribalistas de Holden Roberto que, ao mesmo tempo que emprega todos os meios para se cercar de elementos da sua família no seio do Governo Revolucionário no exílio, também leva centenas de Angolanos militares ou civis de outras etnias a perecerem nas prisões congolesas de Ndolo, Makala, Luzumu e no campo militar HARDY de Thysville, com o objectivo de dividir o Povo, de retardar a Revolução e de prolongar o sofrimento e os massacres do Povo angolano.”...
3. A 7 de Agosto de 1964, os dirigentes do “grae” prendiam o Comandante KALUNDUNGO, Chefe do Estado-Maior do “ELNA” assim como outros importantes Chefes militares e centenas dos seus militares que se encontravam na base de Kinkuzu. Ver o Comunicado do MPLA de 7/8/64.
4. A 9 de Agosto de 1964, num Apelo dirigido ao Governo do Congo/Léopoldville e à OUA, o MPLA expunha a grave situação na qual se encontravam os nacionalistas angolanos no Congo/Léopoldville, na sequência das detenções massivas dos militares pertencentes à FNLA. O seu único “crime”: o de se opor à direcção do “grae” e o de reivindicar a sua adesão à Unidade do nacionalismo angolano.
5. A 12 de Agosto de 1964, e na sequência das detenções dos nossos militantes pela Segurança Congolesa, o MPLA enviou uma carta de protesto ao Senhor Joseph KASAVUBU, Presidente da República do Congo/Léo. O MPLA protestava contra a ingerência da segurança congolesa nos assuntos internos de um povo em luta e pedia, para o MPLA, liberdade de acção em toda a extensão do território congolês.
A notícia que o “L’Etoile du Congo” acaba de publicar em nada nos surpreende. É a sequência lógica de toda uma série de acontecimentos previsíveis de que a decomposição do “grae” é a manifestação mais evidente. Ela confirma o que o MPLA nunca deixou de dizer, ou seja, que este organismo era incapaz de dirigir uma luta de libertação. Que era uma organização que fomentava a divisão e o ódio tribal. E por fim, um aparelho que o imperialismo tinha criado para paralisar ou impedir o desenvolvimento da luta armada em Angola.
Os acontecimentos que acabam de suceder na base de Kinkuzu demonstram ao mesmo tempo a maturidade do nosso povo e a firme adesão à unidade. Erguendo-se contra a tirania tribal que lhes impõem os dirigentes do “grae”, os nossos compatriotas responderam assim ao desejo profundo das massas populares que exigem a unidade das forças combatentes e a oposição às manobras de divisão e de ódio tribal que paralisam a luta e tornam inútil o seu sacrifício tão duramente consentido nestes 4 anos de luta contra o opressor estrangeiro.
O “governo angolano no exílio” é a ponta de lança do imperialismo na África austral.
A sua aproximação com ele é evidente. Na base de Kinkuzu, os seus quadros militares foram treinados por um instrutor negro americano, um certo BERNHARD MANHERTZ, que serviu como mercenário no Vietname do Sul, na repressão contra os patriotas desse país. Por várias vezes, o Sr. Holden Roberto quis envolver médicos cubanos “anti-castristas” no seu organismo de Assistência. No entanto, alguns países africanos aconselharam-no a não o fazer porque seria demasiado evidente... O seu Sindicato, a “Liga Geral dos Trabalhadores angolanos” (LGTA) foi reorganizado por um Sindicalista de origem cubana e que trabalhou sob o governo de TRUJILLO, esse tristemente célebre ditador da República Dominicana.
* * * * *
O Povo angolano tem sido abusivamente representado por um organismo estrangeiro que quis e continua a querer hipotecar o seu futuro. Tem sido representado por um “governo” do qual três quartos dos seus dirigentes nunca puseram os pés em Angola, nem sequer lá nasceram. Esses dirigentes servem-se do sacrifício do nosso povo para fazerem negócios: vender armas que os países africanos lhes dão para a libertação do nosso povo e desviar, para seu proveito próprio, os fundos postos à sua disposição por países de África.
Permitimo-nos citar aqui algumas passagens de um artigo publicado na “PRESENCE CONGOLAISE” de 20 de Julho de 1964, com o título: “SR. HOLDEN ROBERTO NÃO PARECE ESTAR A LIBERTAR ANGOLA”:
“Enquanto o Sr. CABRAL recusa o luxo das capitais dos países vizinhos para se instalar nas zonas de guerrilha, o “libertador” angolano e seus colaboradores chegados divertem-se a delapidar os poucos fundos do seu movimento para comprarem para si “Mercedes último grito” e percorrerem as capitais africanas com o fim de fazer cessar a ajuda de certos países irmãos que, apesar das recomendações da OUA, continuam, quer se queira quer não, a conceder uma ajuda substancial aos seus opositores do MPLA”.
Verdadeira criação do imperialismo, o “grae” está agonizante. Apenas a protecção que lhe concede o imperialismo torna a sua agonia mais lenta. Apenas a protecção e o apoio que lhe dá a Segurança congolesa impede uma clarificação da situação e a desintegração rápida e total desse organismo chamado “governo revolucionário angolano no exílio”.
O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) confia no seu Povo.
VITÓRIA OU MORTE
O COMITÉ DIRECTOR DO MPLA
Feito em Brazzaville, 13 de Agosto de 1964 [carimbo do CD do MPLA]
DOC/43/64

Comunicado de imprensa do MPLA sobre a Base de Kinkuzu (Doc. 43/64) (Brazzaville)

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