Carta de Marcelino dos Santos a Lúcio Lara

Cota
0011.000.032
Tipologia
Correspondência
Impressão
Manuscrito
Suporte
Papel comum
Remetente
Marcelino dos Santos
Destinatário
Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Bom
Imagens
4
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Excerto da carta de Marcelino dos Santos
[manuscrita]

Quinta feira
25 de Fevereiro 60
Caro Lúcio

Recebemos as tuas cartas datadas ainda de Túnis (com a CARTA), assim como a de Marseille, e agora, a de Casa[blanca]. Também recebemos os documentos da Conferência.
Segue já a tradução da CARTA feita por ambos. [...]
Antes de ir mais longe quero informar-te que em SETTAT vive o Aquino [de] Bragança. Já o conheces sem dúvida de nome pelo menos, pois muitas vezes falamos dele. Infelizmente ultimamente os contactos têm sido fracos. Ele é goês, professor de inglês e está casado com uma goesa que veio da terra.
É um grande amigo e companheiro. Sem dúvida ele poderá ser-te útil. Mete-te em contacto com ele porque também se poderá ver em que medida não estaria disposto a colaborar connosco. Quando lhe escreveres, o Aquino (ele prefere a ortografia AKWINO – é menos portuguesa) estará já ao corrente da tua presença em Casa. [...]
Passemos agora à questão do dia.
O Mário dentro de 4 ou 5 dias passará por aqui com o Almeida [Luiz de A.] e a mulher deste, rumo à Alemanha, pois como deves já saber, o 1º encontra-se basto anémico. Precisa de repouso e de «suralimentation». Eis porque vai para a Alemanha onde ficará todo o mês de Março.
Como de volta da Conferência, o Abel [Amílcar Cabral] esteve em Paris, espero que o encontro com o Mário clarificará muitos pontos que a nova situação criada com a CARTA levantou.
A medida que foi tomada de se comunicar ao mundo a transformação do MAC em FRAIN leva-me a pensar que já não é possível, agora, operar modificações na CARTA. Em efeito tenho a impressão que a redacção actual da CARTA é definitiva e não constitui apenas um projecto.
Eu teria muitas objecções a fazer. Mas como disse já o Mário vem aí e talvez algo possa ser já aclarado.
No entanto permitir-me-ei fazer desde já certas considerações, de ordem técnica umas, outras de ordem política. Desde já te digo que após a conversa com o Mário, algo de mais completo te será enviado.

Considerações técnicas
BASE IV 1 – Onde está ORGANISMOS penso que deveria ser ÓRGÃOS
2 – alíneas b) e c) – penso que a especificação deve ser feita no singular e não no plural. Assim foi feito na tradução. Fica pois:
b) A Comissão especial
c) O Comité de Acção
3 – alínea b) – Penso ser necessário especificar as competências da Comissão especial como aliás se fez para os outros órgãos.
BASE VI Que significa: Rendimentos próprios?

Considerações políticas
Admito que razões importantes tenham determinado a transformação do movimento, razões que em parte são talvez de ordem internacional. Nada sei no entanto, e espero que uma «exposição de motivos» me seja comunicada.
Que deverei pensar, por exemplo, da formulação do 2º parágrafo da BASE I. Le Mac fundado pelo Pai e pelo Mpla, e outros africanos individualmente.
Alguns de nós pertencem a essas organizações. Mas enfim, foi individualmente que se apresentaram. Não seria mais justo dizer «sob a impulsão etc, etc, etc...»?
Agora, o FRAIN sendo constituído por organizações, qual a situação daqueles que como eu não pertencem a nenhuma das organizações em questão?
Estas duas questões de ordem interna são importantes para mim.
Creio que estarás de acordo comigo se te disser que, em face dos elemetos de informação que possuo actualmente, estou em direito de pensar que princípios e métodos democráticos de trabalho foram postos em causa e que é pelo menos, necessário explicar e clarificar.
Entre nós se estabeleceram laços de amizade, fecundados precisamente na acção comum. Mas creio que no próprio interesse superior dos povos a que pertencemos, essa amizade não deve permitir que os princípios democráticos possam não ser respeitados. Antes pelo contrário.
Dentro em breve, após o entretien com a malta de Paris, voltarei a escrever-te.
Saudades ao miúdo e à Ruth.
Abraça-te o amigo
Marce.

P.S. Mesmo que haja déficit, enquanto cá estiver nos arranjaremos.
Sossego pois por esse lado.
A CARTA, bem como os documentos da conferência, foram já transmitidos ao GUIDO [Guilherme Espírito Santo]. Ele encontra-se em Genève. [...]

Carta de Marcelino dos Santos a Lúcio Lara

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