Carta de Viriato da Cruz a Lúcio Lara

Cota
0014.000.016
Tipologia
Correspondência
Impressão
Dactilografado
Suporte
Papel comum
Remetente
Viriato da Cruz
Destinatário
Lúcio Lara
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
1
Observações

Foi publicado no 1º Vol. de «Um amplo Movimento...»

Carta de Viriato da Cruz [dactilografada] Conakry, 11.7.60 Caro Lara, Acabo de receber o teu telegrama datado de hoje, no qual dizes ficar aí para aguardar viagem. A razão do nosso telegrama de 9 do corrente é a seguinte: Recebemos no dia 8 o tal postal que havíamos dado ao Zito [Fouad Galal]. O postal foi enviado por avião, de Lausanne (Suíça), e o carimbo dos correios da origem é de 2 do corrente. O texto do bilhete do Zito é o seguinte: «I am now in Geneva I hope to come back very soon. Best regards.» Achamos muito aceitável que de Rua tenham informado ao Zito a tua presença aí, com o propósito que aí expuseste. Fosse como fosse, a verdade porém é que, se ele regressa very soon, e já que esperaste aí tanto tempo, podes aguardar mais uma semana ou dez dias nessa capital. Não te parece que essa atitude é a mais aconselhável? Antes da tua partida (um ou dois dias antes, ou mesmo na altura da partida) se puderes, avisa-nos do facto, pelo meio que te for possível e mais rápido. 2 – Devo informar-te do seguinte: Foi decidido dar uma estruturação provisória ao MPLA. A estruturação definitiva será feita brevemente em reunião alargada, possivelmente em Leo, onde grande número de nós deverá estar dentro de pouco. Foi criado o Presidium de honra do MPLA. O presidente do presidium é o Neto [Agostinho N.]; vice-presidente: Ilídio [I. Machado]. Dezasseis angolanos, que se encontram presos, são simples membros do presidium. Resumindo: o presidium de honra é formado por 18 pessoas. O presidente em exercício do MPLA é o Mário [M. de Andrade]. Vice-Presidentes: Neto e Ilídio. Foram criados cinco bureaux (ou departamentos): 1) Assuntos interiores; 2) Assuntos exteriores; 3) Defesa e segurança; 4) Asssuntos sociais e económicos; 5) Informação e cultura. Os responsáveis do primeiro bureau são: V. Cruz, Matias [M. Miguéis] e Azevedo [Luiz de A Júnior]. Responsável do segundo bureau: Mário; adjuntos: Boavida [Américo B.], Almeida [Luiz de A.] e Hugo [H. Menezes]. Responsável do terceiro bureau: Lara; adjuntos: E. Santos [Eduardo dos Santos], V. Cruz e Azevedo. Responsável do quarto bureau: E. Santos; adjuntos: Lara e Matias. Responsável do quinto bureau: Hugo; adjuntos: Mário, Azevedo e Ivo [I. Loio]. Todos os responsáveis dos cinco bureaux formam o Comité Director do MPLA que é, portanto, assim constituído: Mário, V. Cruz, Matias, Azevedo, E. Santos, Hugo e Lara. Secretário-geral do MPLA: V. Cruz. Conselheiros políticos do MPLA: Amílcar [A. Cabral], Marcelino [M. dos Santos], Deolinda [D. Rodrigues], Pestana, Vieira Lopes [João V. L.], Gentil Viana, Telmo, Edmundo Rocha, [Acrescentado à mão por Lúcio Lara: Horta], Medeiros, U. [Humberto] Machado, Graça [G. Tavares] e João Gomes. [Acrescentado à mão por Lúcio Lara: João Cabral] 3 – A estruturação acima referida foi feita e considerada como válida pelos quatro que estamos aqui. Ela entra imediatamente em vigor. E como o critério que seguimos te parecerá certamente largo, souple e de união de patriotas de boa vontade, estamos certos de que te considerarás imediatamente investido dos cargos acima indicados. Para efeitos de informação, onde quer que achares útil e prudente falar da nossa estrutura interna, podes fazer uso do quadro acima exposto. 4 – O E. Santos, que nos escreveu há dias, saiu da Lusitânia «definitivamente», e quer vir juntar-se a nós. Portanto, já não vai à terra. O Boavida (médico) fugiu da terra, na altura da vaga, e tem o «propósito firme» de juntar-se a nós. Está com o Santos ali onde vive o Alioune [Paris], amigo do Mário. 5 – O padre Pinto de Andrade foi preso em 26 de Julho, em Luanda. 6 – Na capital que será o términus da tua viagem [Cairo], poderás certamente fazer démarches junto da afro-asiática para que esta tome uma posição dura em face das últimas prisões e da intensificação dos preparativos bélicos em Angola. [Acrescentado à mão, na margem: P.S.: Não dês publicidade nenhuma ao nome do Boavida; melhor: não fales dele, nem digas onde ele se encontra. Disse-nos o E. Santos que aquele amigo pediu que se agisse assim para evitar sanções sobre a família que ficou na terra. Até esclarecimento do caso e até que o interessado tome uma nova atitude, nós faremos como ele quer. Viriato]

Carta de Viriato da Cruz (Conakry) a Lúcio Lara

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