Informação confidencial do Comité Director do MPLA nº 5

INFORMAÇÃO DAS ACTIVIDADES DA SEDE AOS RESPONSÁVEIS DO MOVIMENTO
(Poder-se-á desenvolver qualquer dos assuntos, se isso for solicitado).

*[Carimbado: Confidencial].

1966       Nº5
Mês de Setembro                                                                         Semana de 10 a 24

1.    Teve lugar em Brazzaville de 12 a 17 de Setembro o Congresso Constitutivo do todos os Estudantes Angolanos. Deste Congresso saiu uma Organização dos estudantes angolanos chamada “União dos Estudantes Angolanos” (U.E.A.).
A U.E.A. proclama a necessidade imediata de mobilizar o estudante angolano, com vista a uma participação efectiva destes na luta armada dirigida pelo MPLA e a uma melhor coordenação e orientação na formação de Quadros. Decidiu-se ainda a participação imediata e efectiva dos estudantes na luta armada, devendo por isso a UEA procurar os meios para conciliar os programas de estudo com os períodos de permanência nas frentes de batalha.
Durante o Congresso foi votada por unanimidade uma moção sobre Angola reiterando o apoio total dos estudantes angolanos ao MPLA e a luta que ele dirige no nosso País.
Igualmente foram votadas moções de apoio ao Congo-Brazzaville e ao Povo do Vietnam.
Tomaram parte neste Congresso estudantes vindos da Checoslováquia, União Soviética, Suíça, Alemanha Federal, Alemanha Democrática, Bulgária, Polónia, Argélia, Congo- Brazzaville e Congo-Kinshasa.
Foi eleito o Comité Executivo assim constituído: Presidente Lourenço Casimiro, Vice-Presidente Pedro Barros, Secretário para o interior Gilberto Silva, Secretário para a Informação e Cultura António Macedo e Secretário para as Finanças Zinga Vitorino.
No dia 19 de Setembro teve lugar na sede do MPLA em Brazzaville uma reunião dos militantes do MPLA com os estudantes congressistas durante a qual se fez uma explicação detalhada sobre as razões da realização do Congresso assim como sobre os objectivos da UEA. No final da reunião, o Presidente do MPLA tomou a palavra louvando os estudantes pelos resultados obtidos no Congresso. Depois de ter condenado uma vez mais a atitude dos estudantes e dos intelectuais que se recusam a colaborar directamente com o Povo na luta armada contra o colonialismo português, o camarada Presidente terminou reafirmando a decisão inabalável do Comité Director do MPLA de não admitir que o Povo angolano seja enganado, de desenvolver a todo custo a luta de libertação nacional e de fornecer todo o apoio a U.E.A.

2.    Prosseguem as actividades militares do MPLA. Em Cabinda, na área de Massabi, perto de TCHIVOVO, um grupo de reconhecimento do MPLA entrou em choque, em 11 do mês corrente com um destacamento inimigo que procurava localizar as posições do MPLA.
Do reencontro resultaram 21 baixas para o exército colonial português. Do nosso lado registou-se um ferido não grave e um desaparecido.
Foi recuperado material do inimigo e os nossos destacamentos prosseguem a sua acção.
A acção do MPLA no distrito do Moxico, continua a desenvolver-se efectivamente. Os destacamentos político-militares tem alargado constantemente a sua área operacional.
Acerca desta acção, o Ministro da Defesa português, General Gomes de Araújo que visitou recentemente Angola reconheceu pela primeira vez, numa entrevista dada no dia 13 do corrente, ao jornal “Diário de Lisboa”, a existência da Frente Leste aberta pelo MPLA no distrito do Moxico.
Notícias dos distritos de Luanda e Cuanza-Norte informam-nos do recrudescimento da acção político-militar do MPLA tendo-se registado vários combates vitoriosos para os nossos destacamentos em acção nesta área.

3.    Foram presos mais 4 camaradas em Kinshasa - Simão Nelumba, Paulo Neto (Folhas Caídas), Kiano e Azevedo (de Boma).
Estes camaradas encontram-se nas prisões da UPA em Kinshasa, desconhecendo-se os motivos por que foram presos. Supõe-se no entanto, que se relacionam com uma acusação infundamentada de importação ilegal de armas. 
O camarada Luis de Azevedo Jr. fez a este respeito uma declaração a imprensa, de Kinshasa, no dia 16 do corrente na qual afirmou:
“O MPLA respeitou sempre a soberania do Congo e demonstrou pelos seus actos ser solidário com o povo congolês. No entanto, lançamos um apelo que os militantes do MPLA sejam libertos. Bater-nos-emos para os libertar.
A responsabilidade de qualquer acção nesse sentido recaíra sobre o Sr. Holden Roberto assim como sobre as autoridades congolesas caso a gendarmerie tenha contribuído para estas prisões.”
Na continuação das diligências que estão a ser feitas para retomada das nossas actividades na margem esquerda do Zaire, foi pedida a discussão do problema angolano no parlamento daquele país. A inclusão deste ponto na Ordem do Dia aprovada na Comissão de Relações Exteriores por 21 votos a favor e 1 contra.

5.    Tem Chegado a Brazzaville dezenas de compatriotas para se incorporarem nos destacamentos de combate do MPLA.

6.    Realizou-se nos dias 25 e 26 de Agosto findo em Balovale, III Região, uma reunião de quadros dirigentes a qual estiveram presentes os camaradas: Aníbal de Melo, Filipe Floribert, Flávio Fernandes, Teodoro Carlos, Afonso Vandunem, Laurindo Kambuinda, Timóteo, Silva Mário, Henrique Tomás, Samuel Mukendengue.
Nesta reunião de dirigentes foram discutidos os seguintes problemas:
                        a) - organização político-militar na III Região.
                        b) - reabastecimento, intendência e transportes 
                        c)- finanças 
                        d)- necessidade de quadros
A reunião verificou a necessidade urgente de mais quadros dirigentes e de aumentar a quantidade de equipamento. Verificou-se a insuficiência financeira e a necessidade de nomear Conselhos Disciplinares. Decidiu-se alargar urgentemente a frente de luta.
O inimigo tem estado a concentrar numeroso efectivo junto da fronteira com a Zâmbia.
O Comando da III Região informa que no passado dia 24 de Agosto, um aparelho de reconhecimento foi abatido perto de Sakayeka. Abrangido pelo fogo de um destacamento do MPLA caiu em chamas no rio Luena.
Num recontro entre forças inimigas e os guerrilheiros do MPLA foram liquidados 49 portugueses e muitos outros ficaram feridos. Este combate deu-se em 24.8.66.
Começou a ser publicado em Dar-es-Salaam uma edição do boletim Vitória ou Morte, dedicado especialmente aos militantes que se encontram em trânsito na Tanzânia.

7.    Holden Roberto continua a manobrar, procurando salvar o barco que se afunda.
Fez-se um simulacro de atentado no momento da sua chegada a Zâmbia para que houvesse publicidade da sua viagem, cujo objectivo era o de contactar Savimbi e procurar reconciliar-se como última tábua de salvação para ambos.

8.    Os estudantes angolanos teleguiados pelos imperialistas e reunidos uma dita UNEA pediram autorização, em Agosto findo, ao Governo da Zâmbia para abrirem um escritório em Lusaka. Naturalmente isso foi-lhes concedido.

9.    Partiu no dia 9 do corrente para a Alemanha o camarada Lúcio Lara.

10.    O Presidente da República de Cuba enviou uma mensagem de agradecimento ao telegrama que lhe fora dirigido por ocasião do 13º aniversário do 26 de Julho.

11.    O Presidente da República do Congo Brazzaville enviou no dia 21 do corrente uma mensagem de agradecimento ao telegrama de condolências enviado pelo nosso Movimento.

12.    No dia 21 do corrente foi enviado um telegrama ao Presidente da República do Mali, Modibo Keita, por ocasião do sexto aniversário da Independência do seu país.

13.    O Comité dos Três pretendia reunir no Cairo em 20 do corrente. Porém, a convocação feita pelo Secretário da OUA de Adis-Abeba foi enviada por uma carta que foi recebida apenas em 13 de Setembro. Por este motivo e também por que se punha o problema do pagamento de passagens, o MPLA não pode estar presente. Comunicou--se ao mesmo Secretário a composição da nossa delegação: -Luís de Azevedo Jr., Daniel Chipenda, Paulo Jorge e Francisco Barros. 
Sabe-se no entanto que o chefe da UPA passou pelo Cairo alguns dias antes desta data.

14.    O MPLA enviará uma delegação as reuniões do Conselho de Ministros e de Chefes de Estado e de Governo da O.U.A., respectivamente em Outubro e Novembro próximos.

15.    De 1 a 22 de Julho reuniram-se em Rostov na URSS, 53 estudantes membros do MPLA para discutir problemas da nossa luta.
Foram abordados os seguintes pontos:
               a) - análise histórica do problema angolano.
               b) - discussão dos documentos de Dirigentes de Fevereiro
               último.
               c)- posição do Movimento nos países limítrofes.
Durante a discussão foi também reexaminada a organização dos estudantes na União Soviética. Foi dado o acordo a (norma para atribuição de bolsas de estudo) que fora provisoriamente aprovada na Reunião Alargada.
Foi eleito o seguinte Comité Executivo para a Secção Estudantil na URSS:
               Fernando Paiva
               José Eduardo
               Pedro Vandunem
               Ana Monserat
               Mário Santiago

16.    O grupo de estudantes que fora expulso do MPLA e que se encontrava na URSS com bolsas concebidas pela ONU, foi convidado a abandonar aquele país, em virtude do seu comportamento.

17.    Foi editada na Informação do nosso Movimentou uma brochura contendo o guia do Responsável Militar e a Lei de Disciplina do Combatente.

18.    Foi recebido na II Região o seguinte material:
- 1 binóculo
      Oferta do camarada Luís de Almeida

- 215 sacos contendo géneros alimentícios
- 2 malas de viagem
- 8 caixas com medicamentos
      Oferta do Comité de Solidariedade Afro-Asiático da Jugoslávia

- 12 caixas de medicamentos
- 38 caixas com conservas de peixe
- 105 caixas de leite condensado 
- 25 pneus
        Ofertas do Comité de Solidariedade Afro-asiático da União Soviética.

Para a OMA:
- 1 caixa contendo roupas e sapatos
- 25 caixas com provisões para bureau e leite condensado
- 2 caixas de medicamentos
      Oferta do Comité das Mulheres Soviéticas.

Brazzaville, aos 24 de Setembro 1966.
                                                                                        
DO COMITÉ DIRECTOR 

*[Carimbado: Comité Director - M.P.L.A.]