Texto de Angola Combatente «Acabemos com o equívoco…»

Cota
0092.000.003
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA «Angola Combatente»
Data
Conservação
Mau
Imagens
6
*[Manuscrito: 5 abril 67]

*[Rasurado: ACABEMOS COM O EQUIVOCO]

Actualmente fala-se muito em REVOLUÇÃO.
Raros são os homens políticos que não se pretendam revolucionários e que não afirmem que os seus partidos são porta-bandeiras da revolução. Nos países africanos, independentes ou ainda em luta contra o ocupante acontece a mesma coisa. Nas organizações políticas angolanas não se faz excepção e acontece mesmo existirem algumas que aprenderam de cor uma certa terminologia para afirmarem a todo o momento um pretenso revolucionarismo e fazerem crer que todas as outras são contra-revolucionárias. Uma tal linguagem é utilizada em programas de rádio, em boletins de informação, em algumas (não em todas...) conferências internacionais e mesmo em simples conversações e na maior parte das vezes pretende-se com tal linguagem justificar atitudes criminosas para se insinuar que elas são para combater a contra-revolução.
Todo o revolucionário sincero tem o dever de desmascarar oportunamente esses pretensos revolucionários que se querem servir da boa fé do nosso povo em proveito das suas próprias pessoas. ANGOLA COMABTENTE propõe-se dedicar alguns períodos das suas emissões em fornecer a todos os patriotas os elementos necessários para distinguir a revolução da contra-revolução.

Pode-se afirmar que o Povo angolano tomou uma decisão revolucionária quando decidiu viver independente e livre e pegar em armas para liquidar a opressão colonial portuguesa.
Para realizar essa grandiosa tarefa, mesmo para chegar à conclusão de que só pegando em armas poderia levar a cabo as suas legítimas aspirações o povo angolano partiu da sua grande experiência de oprimido e do conhecimento directo da natureza do opressor.
O povo angolano nunca pensou que lhe bastariam algumas manifestações de rua, nesta ou naquela cidade, para assustar as autoridades colonialistas e levá-las a seguir o exemplo da Bélgica, quando concedeu a independência ao CONGO.
Por outro lado, logo que decidiu lançar-se numa luta de libertação que sabia que havia de custar o sacrifício de muito dos seus melhores filhos, o Povo angolano teve consciência de que seria necessário traçar um caminho que evitasse que todo o sangue derramado viesse no fim a ser aproveitado por outros concorrentes do colonialismo português, que servindo-se de elementos fantoches angolanos continuassem a saquear os nossos bens e a impedir a construção do nosso progresso e do nosso bem estar.
Uma organização nacionalista revolucionária não poderia pretender colocar-se na vanguarda da luta de libertação sem mergulhar nas realidades nacionais, pondo em evidência os problemas existentes e indicando as vias a seguir para a sua solução.
Mergulhando nas realidades nacionais, essa organização nacionalista revolucionária tomaria em consideração a natureza especial do sistema que nos oprime, as taras sociais por ele provocadas, os seus métodos de exploração económica, de repressão, a sua opressão cultural, a dependência em que vive o opressor da parte do imperialismo internacional.
Ao mesmo tempo tomaria em consideração o espírito de iniciativa, a capacidade das massas angolanas em levar a cabo a luta de libertação. Não perderia de vista os particularismos dos diferentes sectores da população, os seus legítimos interesses, as suas experiências, as limitações impostas pela destruição que o inimigo fez durante séculos à cultura dos nossos povos, e sobretudo o modo de participação de cada sector da população na actividade económica do país.
Uma organização nacionalista revolucionária não deixaria de estabelecer correctamente em que forças internas e externas se deveria apoiar assim como quais as forças externas e internas que deveria combater, como as combater e quando se afrontar.
Em resultado de uma tal análise, um programa deveria ser esboçado marcando as diferentes etapas do movimento de libertação e as tarefas a realizar em cada uma dessas etapas.
Ora foi justamente o MPLA quem, desde que nasceu para a luta, incarnou com consciência as mais profundas aspirações do nosso povo e se preocupou em derrubar um por um todos os obstáculos que se opusessem à realização dessas aspirações.
O MPLA desenvolveu a consciência nacional do nosso povo e dotou-o de um programa de luta à medida das suas capacidades. Conhecedor do inimigo, a enfrentar, o MPLA apontou a via armada como único meio de fazer ouvir as suas reivindicações e empreendeu imediatamente os esforços necessários para trazer para o lado do nosso povo as alianças que lhe permitiriam fazer frente a um inimigo cujo potencial de guerra dependia principalmente de fortes alianças. Ao mesmo tempo lançou os alicerces de uma estrutura político-militar sem a qual a luta armada não poderia desenvolver-se vitoriosamente e só beneficiaria os nossos inimigos. Daí a intensificação da preparação político-militar dos seus militantes que formam os núcleos que integram a acção militar de vastas camadas populares. Daí a dotação dos destacamentos político-militares de armas cada vez mais aperfeiçoadas e eficazes, para se oporem com êxito aos poderosos meios de destruição do inimigo. Em vez de fornecer diamba aos seus guerrilheiros, o MPLA deu-lhes conhecimentos tácticos e técnicos, e os meios militares e a formação política necessário para a reconquista palmo a palmo da terra que nos foi roubada. Nos círculos internacionais os aliados do MPLA são as forças revolucionárias de todo o mundo e em particular de África, da Ásia e da América Latina. O programa que o MPLA segue na sua luta de libertação esta profundamente ligado aos interesses do nosso povo. Ele tem um carácter nacional, anti-tribal e anti-regionalista, sem por isso deixar de considerar os interesses particulares dos diferentes grupos étnicos que compõem o nosso povo. O MPLA propaga e pratica uma política de unidade sem que por isso pretenda absorver ou liquidar outras formações verdadeiramente patrióticas.
Por outro lado o MPLA não deixa de olhar para além da luta pela independência e é por essa razão que o seu programa maior aponta os princípios que permitirão ao nosso povo, depois da conquista da independência, de enveredar pelos caminhos mais seguros para o seu desenvolvimento económico, político e social e consolidar assim as conquistas que tanto sangue lhe custaram.
Em Cabinda, nos DEMBOS, em NAMBUANGONGO, no MOXICO, no KUANDO-KUBANGO, os guerrilheiros do MPLA, armados das suas carabinas e dos princípios revolucionários do MPLA são a melhor garantia de que a opressão e a contra-revolução serão esmagadas e de que a REVOLUÇÃO ANGOLANA TRIUNFARÁ.



COMUNICADO DE GUERRA
Frente Leste

No dia 12 de Fevereiro, pela 18h05, um grupo de comandos do MPLA assaltou o posto de LUAKANO, no lago DILOLO, com a missão de localizar e de destruir um posto secreto da PIDE. A missão foi cumprida e embora os agentes tenham conseguido escapar, abandonaram armas, munições, um posto de rádio, víveres e duas bicicletas que o nosso grupo recuperou.

A 17 de Fevereiro pela 4h30 da madrugada, um destacamento do MPLA operado entre o distrito do Kuando Kubango e o distrito do Moxico, desencadeou um ataque contra o posto de MUIE, servindo-se de metralhadoras ligeiras, carabinas e granadas.
Em virtude da violência do ataque teve que retirar para as trincheiras até que lhe chegaram reforços. O inimigo perdeu seis homens e teve um elevado número de feridos. Nas nossas fileiras não se registaram quaisquer percalços.


NOTICIÁRIO
Continuam a chegar ao MPLA numerosas manifestações de solidariedade acompanhadas das mensagens de protesto enviadas ao governo de Kinshasa pelos raptos e sequestros de que têm sido objecto os patriotas angolanos naquele país por parte dos bandos holdenistas.

TSHOMBE comprou recentemente em Lisboa o luxuoso edifício ROMA. O fantoche da Union Minière visitou várias vezes Portugal nos últimos meses, para se avistar com seus mercenários, hospedando-se em casa duma certa família ZOIO, em Colares, próximo de Sintra. Sabe-se que esses mercenários se espalham por diferentes locais em Portugal depois que o Congo-Kinshasa protestou na ONU contra a sua presença em Angola. Os principais centros de mercenários são Santarém e São Martinho do Porto.

O Partido do trabalho Holândes, que detêm cinco pastas no governo pediu a saída de Portugal da NATO em 1969, quando se fizer a revisão do tratado actual.

Chegaram a Lisboa 4 oficiais médicos presos na Guiné durante uma tentativa de revolta em que se utilizaram armas de fogo. Por outro lado tem se verificado um aumento de deserções dos quadros militares portugueses. Recentemente, no quartel da CICA na Figueira da Foz um alferes miliciano de nome CHUVA, desertou nas vésperas do embarque para Angola, ao mesmo tempo que em Estremoz três aspirantes milicianos desertaram.

Em HANOI, representantes da vida pública da capital da República Democrática do Vietnam, agradeceram em nome do povo vietnamês, os povos do mundo inteiro pelas numerosas provas de solidariedade e de apoio à sua luta contra a agressão dos Estados Unidos. Recordamos que o MPLA participou concretamente na Semana de solidariedade que se celebrou em Março passado, para exigir a cessação imediata dos bombardeamentos aéreos criminais e os outros actos de agressão contra o povo do Vietnam.




INFORMATIONS (CONTIN.)

IL A ÉTÉ REÇU PAR LES MINISTRES PORTUGAIS DES affaires étrangères, de la Défense et de l’outremer. Il est clair qu’un nouveau complot anti-africain est en train de se préparer.


COMMUNIQUE DE GUERRE

Front de l’Est

Le 12 février un groupe de guerilleros du MPLA attaqua avec succès le poste de LUAKANO, près du lac DILOLO, détruisant une maison secrète de la PIDE et récupérant des armes, des munitions, un poste radio, des vivres et deux vélos.
Le 17 février, vers 4h30, un détachement du MPLA opérant dans la limite des districts de Kuando-Kubango et Moxico, attaqua le poste de MUIE à l’aide de mitrailleuses, de fusils et de grenades. L’ennemi qui a dû se retrancher jusqu’à l’arrivée de renforts, a perdu six hommes et enregistra un nombre élevé de blessés.
Le 15 février un groupe de reconnaissance du MPLA se heurts à une patrouille ennemie, dans la région de BUNDAS. Trois soldats ennemis ont été tués.
Le 13 février, vers 15h, un autre détachement du MPLA monta une embuscade à quatre véhicules militaires ennemis transportant des troupes vers le poste de NINDA. Les véhicules ont été détruits et vingt soldats ennemis ont été tués, et une dizaine de blessés.
Le même jour, vers 16h45 un groupe de reconnaissance se heurta à une patrouille ennemie qui terrorisait les camps de concentration. En résultat du choc les forces colonialistes on eu 56 morts et 16 blessés. Dans tous ces opérations le MPLA a enregistré seulement un blessé grave.

Texto do programa radiofónico do MPLA - Angola Combatente «Acabemos com o equívoco. Actualmente fala-se em Revolução…» (Brazzaville).

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