Texto de Angola Combatente «Os povos, a humanidade em geral…»

Cota
0092.000.007
Tipologia
Texto de Análise
Impressão
Dactilografado (2ª via)
Suporte
Papel Comum
Autor
MPLA «Angola Combatente»
Data
Idioma
Conservação
Mau
Imagens
6
+[Manuscrito: 7/4/67]

Os povos, a Humanidade em geral, vivem hoje uma era completamente nova. As características dessa era não são apenas as realizações atómicas, a conquista do Cosmos e o grande progresso da ciência; mas são também as grandes conquistas sociais do Homem e a liquidação do sistema colonial.
No caso particular de África, podemos verificar hoje que a maioria dos países africanos goza de soberania nacional e internacional. A independência nacional é, por isso, uma reivindicação irresistível dos povos africanos. A causa justa e a luta do Povo angolano impuseram-se já à simpatia dos todos os povos do mundo.
A atitude de desprezo arrogante e de rebeldia de Portugal em relação à ONU, fez compreender à opinião internacional que Portugal só entende a linguagem da força.
O maior obstáculo encontrado pela insurreição popular foi o facto que ela desenvolveu e eclodiu nas condições de regime colonial-fascista de Angola. Por essa razão, parte das energias nacionalistas teve de se refugiar no exterior, e agir do exterior, pelo que a acção nacionalista ficou de certo modo dividida.
Por outro lado, a presença na direcção de algumas organizações nacionalistas, que agem do exterior, de elementos sem laços, ou com laços muito débeis com as necessidades específicas de Angola; a falta de pressão e do controle das massas de Angola sobre as organizações nacionalistas do exterior, as concessões necessárias ou forçadas perante a realidade e os poderes de alguns países onde essas organizações são obrigadas a agir; as imiscuições, as manobras e as intrigas de interesses não africanos no sentido de manter a divisão do nacionalismo africano e de nele introduzir os germes da guerra fria mundial; a existência de pessoas e de organizações angolanas que atentam contra a unidade de objectivo – a independência nacional de Angola – pregando o micro-nacionalismo, a desintegração territorial e o tribalismo; o exclusivismo arrogante e a luta fratricida; tais são as deficiências e os problemas que subsistem no movimento angolano de libertação.
Essa é a razão por que o MPLA desenvolve, sem ingenuidade, um paciente e infatigável trabalho de explicação e de aprendizagem junto das massas angolanas, no sentido de que elas venham a ser as construtoras consequentes da Unidade nacionalista. Esse trabalho é feito sob a palavra de ordem: A LIBERTAÇÃO DE ANGOLA DEVE SER OBRA DE TODOS OS ANGOLANOS E NÃO APENAS DE UMA FRACÇÃO DO POVO SEJA QUAL FOR A SUA IMPORTÂNCIA.
É incontestável que o MPLA é a organização política angolana que maior contribuição tem dado aos diferentes aspectos da nossa luta de libertação, político, militar, social, diplomático, cultural, etc.
O OBJECTIVO PRINCIPAL DO COMBATE DO MPLA É A INDEPENDÊNCIA NACIONAL!
Nunca é demais repeti-lo. O meio que o MPLA emprega para conseguir esse objectivo é a REVOLUÇÃO NACIONALISTA, que destrua o regime colonial português.
As armas não são os únicos instrumentos da nossa revolução: a enxada, o livro, a serra, o martelo, o comércio, a indústria também têm tarefas importantes a desempenhar. Todas as camadas sociais angolanas - camponeses, operários, intelectuais, comerciantes, artesãos e industriais – têm o seu lugar dentro da Revolução. A nossa Revolução é portanto uma Revolução nacional, não é uma revolução de classe ou de grupo étnico. O MPLA não pretende impor um regime em Angola. O MPLA luta pela soberania indivisível do Povo. Somente ao Povo angolano competirá escolher livremente o regime político, económico e social em que quererá viver. E a condição essencial para que essa escolha seja possível é que seja alcançada a independência nacional. O MPLA tem no entanto o direito de defender que um regime adequado às bem conhecidas aspirações o povo se inscreva e se desenvolva no quadro de uma república, da democracia e da justiça social.
O MPLA defende a inviolabilidade dos direitos e das liberdades dos cidadãos, nomeadamente a liberdade de expressão, de consciência, de reunião, de associação, de organização, de crenças.
Ao mesmo tempo que defende o direito à propriedade privada, o MPLA tendo em conta os imperativos da justiça social, defende igualmente o direito de cada angolano ser assegurado de uma vida decente pelo seu trabalho e o direito de os membros fracos e pobres da sociedade serem garantidos de uma protecção face aos membros mais beneficiados. Mas o exercício da democracia e o respeito da propriedade privada não excluem as seguintes medidas exigidas pelo Povo e que o MPLA defende: TERRA PARA OS CAMPONESES SEM TERRA; SALÁRIOS JUSTOS; CONCESSÃO DE CRÉDITO AOS CAMPONESES, COMERCIANTES E INDUSTRIAIS CUJA ACTIVIDADE BENEFECIE EFECTIVAMENTE A ECONOMIA DO PAÍS E O NIVEL DE VIDA DAS POPULAÇÕES; MODERNIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO; ELEVAÇÃO DO NÍVEL DE VIDA, DA CULTURA E DA SAÚDE, EM PARTICULAR NOS MEIOS RURAIS.
É incontestável que ANGOLA, para vencer eficaz e rapidamente e o subdesenvolvimento, necessitará de ajuda técnica e financeira estrangeira. O MPLA defende no entanto o princípio de que essa ajuda deverá basear-se na igualdade entre os Estados, no respeito mútuo da soberania e na sua exclusão de qualquer condição política ou militar.
O MPLA defende para Angola a doutrina do não engajamento a blocos e de uma política externa independente pacífica.
Assim, a REVOLUÇÃO ANGOLANA oferecerá aos angolanos de ambos os sexos, de todas as etnias e de todas as camadas sociais possibilidades reais de uma existência de liberdade, de progresso de propriedade, de paz e de felicidade.
Os duros anos procedentes de luta já convenceram o Povo angolano de que a liberdade e a independência não serão uma dádiva, mas o fruto de uma luta concreta, longa e difícil.
ANGOLA SERÁ INFALIVELMENTE LIVRE E INDEPENDENTE. O único problema é o saber quando, como e ao preço de que sacrifícios.
É por isso que o MPLA que se afirmou como o verdadeiro intérprete das aspirações populares no campo militar, político e social, proclama com a insistência a necessidade de enriquecimento o esforço dispendido pelo nosso Povo para a luta, com a difusão de princípios revolucionários sólidos, que mostrem o verdadeiro caminho a todos os irmãos a quem o colonialista português ou os agentes da contra-revolução enganam com falsas profecias ou com palavras de ordem tribalistas e criminosas.
SOB A BANDEIRA DO MPLA, LUTANDO PELA REALIZAÇÃO DO PROGRAMA DO MPLA, A REVOLUÇÃO ANGOLANA TRIUNFARÁ!!



COMUNICADO À IMPRENSA

Respondendo recentemente a uma questão de um membro do Parlamento Israelita acerca do modo como as pistolas-metralhadoras UZI fabricadas em Israel se encontravam na posse das forças portuguesas que combatem em Angola, o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel declarou que:
“Um representante de Israel tinha encontrado o Presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola e tinha-lhe pedido para mostrar essas armas ao representante de Israel em Brazzaville, afim de verificar se elas são realmente fabricadas em Israel, ou mesmo para lhe fornecer fotografias ou quaisquer elementos de apreciação. Até agora - disse o Ministro Abba EBAN - nem armas, nem elementos de apreciação nem fotos nos foram apresentados como prova”.
O MPLA insiste em precisar que, justamente a pedido do Embaixador de Israel em Brazzaville, o presidente do MPLA mostrou armas de fabrico israelita e de marca UZI, recuperadas pelos nossos guerrilheiros às tropas portuguesas.
O MPLA continua à disposição da imprensa e da Embaixada de Israel para confirmar uma vez mais as nossas afirmações sobre o facto de que as tropas portuguesas possuem armas de fabrico Israelita.
O Comité Director do MPLA aproveita esta oportunidade para chamar a atenção do governo de Israel para as graves consequências que decorrem desta colaboração militar com o governo colonialista português.
O Comité Director do MPLA




COMUNICADO DE GUERRA

FRENTE LESTE

A 18 de fevereiro pelas 15h, um destacamento do MPLA, que em homenagem ao povo heroico do Vietnam, se deu o nome de VIET-ANGOLA, desencadeou um ataque surpresa a 4 veículos que transportavam tropas do posto de CHIUME para o posto de NINDA.
Os nossos guerrilheiros tinham previamente destruído uma ponte sobre o rio MULAYI o que obrigou as tropas inimigas a desembarcarem para tentar reparar a ponte. Foi nesse momento que os nossos guerrilheiros abriram fogo. Pelo menos 20 soldados foram mortos, havendo numerosos feridos.
No mesmo dia 18 de fevereiro pelas 16h45m um grupo de reconhecimento do MPLA em missão na área do posto LUMBA, detectou uma importante unidade inimiga aterrorizando a população da aldeia de MANGONJO, nas margens do rio LUKONYA, para as obrigar a partirem para um campo de concentração. Montada uma emboscada, as forças colonialistas sofreram 56 mortos e 16 feridos. Do lado do MPLA não se registrou qualquer baixa.


NOTICIÁRIO
O governo colonialista português persiste em levar a efeito todos os anos uma chamada “Semana do Ultramar” durante a qual em todas as cidades e vilas portuguesas, nas escolas e noutros sectores de actividade, os porta-vozes governamentais se esforçam por inculcar no seu Povo uma mentalidade colonialista. Na que se está realizando neste momento, os argumentos do governo têm tentado justificar as enormes somas gastas com a guerra colonial, prometendo a um povo já incrédulo a uma juventude indiferente que a guerra em breve acabará e que todas as dificuldades actuais desaparecerão. Essa cantiga repetem-na os colonialistas há já seis anos, e a guerra não faz senão intensificar-se. É o que demonstra esta outra notícia da agência semi-oficial portuguesa ANI:
Um decreto do Ministério das Finanças português, do dia 5 de abril manda abrir um crédito especial de um milhão e cem mil contos para uma rubrica “FORÇAS MILITARES EXTRAORDINÁRIAS NO ULTRAMAR”.
Ainda há pouco o Orçamento Geral do Estado tinha sido aprovado, e já comportava 40% de despesas militares, e já no início do 2º trimestre de 1967 o inimigo é obrigado a reforçar as verbas militares. Quem pagará tudo isso?...
Chegou hoje a Lisboa o Ministro da Defesa da África do Sul. O carácter agressivo desta visita evidencia-se pela presença no aeroporto de Lisboa do Ministro da Defesa português e de elementos do Estado Maior, e ainda porque o programa de visitas prevê unicamente uma visita às OFICINAS DE MATERIAL DE AERONÁUTICA Alverca e à fábrica MILITAR DE BRAÇO DE PRATA. Em complemento o referido ministro da defesa racista terá encontros com ministro dos negócios estrangeiros, com o ministro do ultramar e com o ministro da defesa. Não há dúvida que se prepara um novo complot anti-africano…

Texto de Angola Combatente «Os povos, a humanidade em geral, vivem hoje uma era completamente nova...» (Brazzaville). Contém um Comunicado à Imprensa, um Comunicado de guerra e um Noticiário.

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